top of page
foto 10.webp
foto 11.webp
foto 8.webp
foto 6.webp
kay 17.webp
foto 5.webp
foto 2.webp
kay 2.webp
foto 3.webp
kay 10.webp
kay 9.webp

“Quando eu olhei Nanny pela primeira vez na televisão no [programa do] Amaury Júnior, fazendo reportagem montada, eu falei: gente, é isso que eu quero pra minha vida. É isso!

Porém, se em casa podia contar com o apoio de seus pais, na escola a história foi outra. Segundo Kayete, na década de 80 o sofrimento era maior, a homofobia era a regra, não existia diálogo ou comunidades nas redes sociais onde pessoas LGBTQIAPN+ pudessem se refugiar e se apoiar. Então, um ambiente que era para ser de acolhimento e aprendizado, tornou-se um lugar de bullying, rejeição e dor. Em suas palavras, “ir para a escola era uma tortura”.

“Eram muitos apelidos, era jogar os cadernos no chão, ia no banheiro tomava chute. [...] Eu falei: “gente, é isso que vai ser a minha vida? Para onde é que eu vou? Isso é vida?"

Mas sabe-se lá com que força, Kayete conseguiu atravessar um período difícil e percebeu que não estava sozinha. A queen passou a se aproximar dos colegas que também sofriam violência por serem tidos como diferentes e, juntos, organizavam atividades como desfiles e concursos na hora do recreio. O sucesso foi enorme, uma verdadeira febre e até mesmo as pessoas que um dia praticaram bullying contra elas queriam participar.

“Começamos a virar dos excluídos aos populares, começamos a ter apoio da escola. E aí, meu amor, descobri que a cultura resgata, a cultura e a educação.

Fui resgatada pela comunicação, pela cultura e aí eu falei: agora ninguém me segura.

kay 11.webp

“De um instrumento de bullying que era pra me fazer mal, eu fiz do limão uma limonada. Reverti o jogo e aí botei minha primeira peruca e nunca mais parei. Teve um dia que eu cheguei na escola de peruquinha, com o vestido da tia parecendo a vovó Mafalda. Mas cheguei me sentindo, porque eu tinha atitude e nunca mais parei, querido. Então acho que a Kayete nasceu de uma dor e transformou minha vida.”

kay 12.webp
foto 4.webp

Foto: Reprodução/Instagram/kayete_oficial

camera.webp
Prancheta 1.webp
kay 15.webp

Impressionante é observar que Kayete se comunica com públicos muito diversos, realizando algo extremamente capcioso ao extrapolar limites de uma bolha LGBTQIAPN+, estando inserida nessa comunidade.

Graduada em Jornalismo, Ciências Contábeis e Artes Cênicas, nossa multiartista é apresentadora das rádios Globo e BH FM. Essa relação apaixonada com o radialismo trouxe muito para Kayete. Para além de experiências incríveis com lançamentos de novelas e entrevistas épicas, com nomes como Betty Faria, Lilia Cabral, Tony Ramos e Fernanda Montenegro, a drag cumpre há três décadas o importante papel jornalístico de levar informação para sua audiência,

sempre com uma dose de bom humor e seu jeito de tornar as coisas mais alegres.

foto 7.webp

Foto: Reprodução/Instagram/kayete_oficial

camera.webp
kay 3.webp
kay 4.webp
kay 14.webp
kay 18.webp

Não tô boa não.

Eu tô óooootima

kay 28.webp
Ativo 42.webp
kay 26.webp

Segundo Kayete, foram 12 anos em cartaz, com duas sessões por noite quase sempre esgotadas e em vários dias da semana, foi simplesmente uma das peças mais assistidas durante 10 anos. Quando essa aventura começou, a drag queen já tinha um público fiel que a acompanhava e, assim como suas companheiras de palco, tinha formação em teatro. Mesmo assim, tiveram dificuldade de conseguir um diretor, porque as pessoas, às vezes da própria comunidade, não queriam “dirigir viados de peruca”.

“Então quem disse não para a gente queria morrer [...] ‘As barbeiras’ me deu meu primeiro carro zero, me deu meu apartamento. Então assim ‘Ah, não dirijo’. Que pena né, meu amor? Perdeu os viados de peruca

A sensação que permanece hoje na artista é de que tudo isso era um

desbravamento.

Se hoje a diversidade de gênero e orientação sexual podem ocupar espaços mais livremente, é porque a geração de Kayete e as anteriores lutaram por isso. Com sorte, a queen não precisou fazer isso sozinha. Mesmo não tendo uma mãe drag, porque na época não era comum, contava com o apoio de outras drags, amigas, que estavam começando. Walkiria la Roche, Marilu Barraginha e Nayla Brizard foram algumas das aliadas na história da artista, sobretudo as duas últimas, que estrearam com Kayete a peça As Barbeiras, de Wesley Marchiori

Foto: Reprodução/Instagram/kayete_oficial

camera.webp
foto 1.webp
kay 31.webp
foto 12.webp

No mundo da comunicação, tantas vezes tradicionalista e obtuso, uma figura colorida e divertida se destaca em dissonância. Mas Kayete não é do tipo que abaixa a cabeça e, com dedicação e qualidade, deu resultados como ninguém. Assim, com muito trabalho, as coisas aconteceram.

Para além disso, a queen enxerga uma transformação e avanço na forma como drag queens e pessoas LGBTQIAPN+ são vistas e inseridas na vida, na mídia e no ambiente de trabalho, pois a necessidade de se esconder é progressivamente menor. Algo que há pouco tempo atrás lhe parecia impossível.

Para Kayete, a noite de BH carece de oportunidades, visibilidade, mas segue sendo uma cena pulsante, efervescente, que já conquistou muito e, acima de tudo:

“É minha casa, meu santuário. É o palco que me fez quem sou hoje, tenho muito orgulho em falar que sou mineira.”

Foto: Reprodução/Instagram/kayete_oficial

camera.webp
kay 34.webp
Ativo 41.webp

"Tudo que brilhava eu gostava, amor. Eu era louca com o Natal. Eu queria ser uma bolinha de Natal mesmo, um pisca pisca.”

Kayete foi uma criança muito musical, apaixonada por televisão e entretenimento. Ao som de Tina Turner e Conga, Conga, Conga da Gretchen, dançava livremente, sem se importar com olhares tortos e preconceituosos que incidiam sobre o seu existir afeminado. Com o tempo, foi se encantando ainda mais pelas divas da TV: Vera Verão, Maria Alcina, Paulette e Nanny People. As plumas, o glitter e o humor foram pilares na sua construção identitária, que até hoje tem uma devoção pelo lado dourado dos anos 80.

O nome Kayete veio por volta dos 17 anos. A drag costumava frequentar uma lanchonete com a turma de ensino médio e um dia decidiu pedir ao dono do estabelecimento para fazer uma apresentação, uma noite de música.

“Comecei a carreira ganhando um sanduíche e um suco, mas foi a melhor coisa que me aconteceu, porque eu comecei a fazer essa noite do bilhetinho e a coisa começou a lotar. Até que teve um dia que não passava mais carro na rua.”

Eis que o dono de uma rádio comunitária da comunidade São José se encantou com as habilidades de comunicação de Kayete e a convidou para ter um programa. Contudo, para isso ela precisava escolher um nome!

“Caio, Caio, Caio… Kayete em homenagem a Paulette, do Dzi Croquettes! Nisso ficou Kayete, nunca mais parou e aí nasceu no rádio ao mesmo tempo e também o meu nome artístico.”

Com o início da vida adulta veio a possibilidade de frequentar boates gays, a vida noturna de BH e o deslumbre com esse novo universo foi instantâneo. Descobrir que existiam outras pessoas como ela, ver pessoas LGBTQIAPN+ se beijando e se amando, foi o óbito da solidão que sentia, ao achar um lugar de pertencimento. No encontro de novos amigos e com sua lábia afiada, Kayete pediu ao dono do extinto bar Estação 2000 para fazer um show. E, aí pronto, na primeira montação ganhou seu primeiro cachê e o resto é história.

kay 23.webp

Outra faceta fundamental de Kayete é a sua relação com o teatro e a interpretação. A atriz e humorista coleciona incontáveis peças de sucesso no decorrer de sua trajetória, continua em cartaz Brasil a fora e segue ativa no cinema e na televisão, ao lado de atores e diretores de peso. Além disso, é, com muito orgulho, madrinha artística do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte. Também habita o coração da cidade como uma figura querida e tem sido companhia diária de milhares de ouvintes ao longo desses 30 anos.

Mas se hoje Kayete celebra com imensa emoção essa jornada, é porque a luta e a persistência foram essenciais para tamanha longevidade, já que os desafios foram muitos. Nas décadas de 80 e 90, um tempo não tão distante de nós, a discriminação contra pessoas LGBTQIAPN+ era mais intensa. Por simplesmente ser quem você era, cobrava-se o alto preço de resistir a injustiças e agressões.

“Era uma noite muito difícil, porque a gente tinha poucos espaços e para entrar nessas boates parecia que estava indo pra guerra. Você entrava de lado para ninguém descobrir que você estava entrando.”

Tamanha persistência e sonhos alcançados dividem um fio condutor comum: o poder desmedido que Kayete possui de comover audiências com as gargalhadas mais sinceras. Como se um raio tivesse caído no mesmo lugar, é um daqueles dons genuínos e raros, que injustiça as pessoas desinteressantes. Sempre foi a comédia… O carisma de Kayete é muito mais do que real ou palpável, é o que a trouxe até aqui.

“Sempre quis fazer com que as pessoas se divertissem, porque o mundo já é tão difícil [...] É o que eu gosto, que eu amo fazer, faço comédia no rádio, faço comédia na TV, faço comédia no cinema, nos palcos. Acho que a gente tem que levar informação com leveza. Me preocupo muito com o que eu falo também, porque eu falo hoje para mais de um milhão de pessoas, no ar de segunda a sábado. Mas sempre com leveza. [...] Então a comédia é o divisor de águas na minha vida.”

Houve um tempo em que a queen alcançava um público somente LGBTQIAPN+, mas, nas palavras da artista, “hoje fala com todas as comunidades”. Porém, é claro que tal privilégio não caiu do céu. No decorrer dos anos, Kayete foi alvo de críticas diversas, de todos os lados, mas seguiu adiante.

caixa final.webp
foto 13.webp

Kayete se orgulha das artistas que iluminam a cena e do que a cultura drag queen belorizontina tem se tornado. Foi-se o tempo em que madrugava noite adentro pela cidade, mas os sonhos seguem tão jovens quanto sua alma. Com planos de um quarto diploma, em Psicologia, e de aprofundar sua carreira como escritora, pretende também manter-se firme enquanto atriz, apresentadora, jornalista, comediante e diretora.

kay 36.webp

Kayete é uma fênix. Eu acho que ela é uma renascida, eu acho ela corajosa, ousada, abusada na hora que precisa. Não engole mais sapo, já engoliu muito brejo na infância, na adolescência, até com perereca que eu tenho nojo já engoli com tudo que eu tinha direito. Mas hoje, querida, não passa uma muriçoca, entendeu? Porque hoje é babado. Ou você me ama, ou você me odeia, entendeu? Porque meu nome é franqueza.”

Nós te amamos, Kayete.

E, temos absoluta certeza, BH te ama também!

bate 2.webp
bate1.webp

Encontre Kayete:

insta.webp

Mais do que uma figura amada na rádio mineira, Kayete é infinita.

Uma drag queen resiliente que esbanja vontade inesgotável de aproveitar o que o agora tem a oferecer. Com a eterna humildade e genuinidade de quem ama, profundamente, o que faz, acima de qualquer reconhecimento.

Uma diva

Sade Adu

Um suco

Detox (risos)

Não vivo sem

Marido

BH é

Vida

Um sonho

Talk Show na tv aberta

Um medo

Perder as pessoas que a gente ama

Ser drag é

Um pisca-pisca ambulante

Kayete por Kayete

Realizada

Foto: Reprodução/Instagram/kayete_oficial

camera.webp
bate2.webp
kay 40.webp
kay 41.webp
Ativo 38.webp
Ativo 40.webp

A categoria é...

comedy queen comunicadora

Kayete Fernandes é um ícone de Belo Horizonte, seja como drag queen, comunicadora ou atriz. Com senso de humor aflorado, é extravagante na fala e na aparência, e leve na forma de ver a vida. O céu é o limite e, se tem uma coisa que a nossa drag sabe bem, é te fazer rir. Com 30 anos de uma carreira histórica, derrama carisma e é o melhor símbolo do que a mineiridade pode nos oferecer.

kay 7.webp

“Gata, eu não tinha roupa, não tinha nada, tinha essa peruca de kanekalon da época da escola. Eu lembro que eu peguei um vestido da minha tia escondido, uns vestidos azuis, daqueles de tia do interior com uma flor de todo tamanho. Não, gente, tava bom não! [...] Mas o que eu não tinha de beleza, eu tinha de carisma. O povo ria do meu show e ria, ria, ria e depois comecei a tirar foto… Aquela coisa toda. O dono falou ‘vai fazer todo sábado!’”

kay 19.webp

Kayete nos conta de uma situação em que foi expulsa de uma pizzaria que estava com amigos. O dono não queria pessoas como ela no estabelecimento e ordenou que se retirasse imediatamente.

“Nesse dia eu sentei na rua e chorei a noite inteira, porque eu não tinha feito nada, fui expulsa de um lugar simplesmente por existir. Eu chorei, mas nesse dia eu jurei para mim mesmo que ninguém nunca mais ia me humilhar e nunca mais ninguém me humilhou”

kay 24.webp

Com tantos obstáculos, por que então resistir? Acima de tudo, por amor. Kayete encontrou um lar na noite, é apaixonada por essa era de glamour, pela liberdade de poder expressar a si e sua arte.

“A gente queria que a nossa cultura fosse efervescente tanto quanto lá fora. Então a gente fazia por amor mesmo e até hoje faz por amor.”

Em 2024, comemorou 30 anos de carreira transbordando emoção. É como se um filme passasse em sua cabeça. Com tantas conquistas após tantos anos de bagagem, o clássico bordão de Kayete faz cada vez mais sentido: “Não tô boa não. Eu tô ótima”

“Quando seu trabalho é bom, ninguém questiona.

E eu sempre provei com o meu trabalho.”

“Você tem que ser guerreira para seguir adiante e ir melhorando as coisas e aprimorando.

‘Vocês vão me engolir, querida’.

Não era fácil não, viu? Mas vale a pena, te deixa mais forte. E outra coisa, você tem que entender o seguinte, você vai botar a cara no sol, meu amor, você tem que aceitar as críticas também, né? Porque tem um contraponto que eu falo ‘hater engaja, gente’. Você acha que eu ligo? Engaja horrores. Quando eu vejo que pipocou engajamento eu só agradeço, entendeu?”

Ativo 39.webp

Foto: Viraliza BH/Divulgação

camera.webp

Foto: Shopping Center News/Divulgação

camera.webp

Fotos: [1] Gay Blog BR/Reprodução, [2] André Morbach, [3] TV Hist[oria/Reprodução [4] Rafa Marques

camera.webp

Foto: Reprodução/Divulgação/kayete_oficial

camera.webp

Foto: Agenda BH/Divulgação

camera.webp

Fotos: [1] Santa Casa/Divulgação, [2] Arreda pra Cá/Reprodução

camera.webp

Foto: Reprodução/Instagram/kayete_oficial

camera.webp

Foto: Rodney Costa/O TEMPO

camera.webp
bottom of page