Ademais, a palavra 'mira' carrega significados em nosso idioma que, segundo a drag, combinam com o lugar que ocupa enquanto corpo político LGBTQIAPN+, simbolizando, pois, um alvo constante em suas costas.
E quando dizemos que tudo foi pensado estrategicamente é porque o nome abre espaço para inúmeras possibilidades gráficas, além de ter uma sonoridade fácil de se rimar em jogos de palavras.
Fotos: [1] [2] Acervo pessoal, [3] Davlo
“Durante o processo de montação,
eu experimentei autoestima,
eu me sentia indestrutível,
inabalável, mais bonita, a mais mais.”
Além disso, a escolha do nome foi metódica e calculada nos mínimos detalhes. Precisava começar com M de Matheus, ser sonoro, curto e ter conexão com algo que gostasse muito - como a Miranda Priestly de um dos seus filmes favoritos - O Diabo Veste Prada.
“É icônica, atemporal. Ela é podre? Ela é podre, mas é o que eu quero ser enquanto drag. Eu falei: Não vou pôr Miranda Priestly, mas Mira me agrada. [...] E no conglomerado de marcas da Prada, MiuMiu é a marca mais nova. Eu sou a versão mais nova da Miranda Priestly."
“Então se o Diabo Veste Prada,
Mira veste MiuMiu!"
Foto: Victor Senador
Foto: Marcelo Batista
Foto: Acervo pessoal
Mas quando se carrega tudo no peito de maneira tão forte… Como não tentar esmiuçar o andar da vida em detalhes? Como então desembaralhar as incertezas que a assustam?
Uma coisa é certa: sem planos Mira não teria chegado até aqui. Mas foi se lançando e se arriscando no mundo, que dúvidas se tornaram impulsos, a arte se transformou em resposta e essa megera nasceu.
“Quando eu estava montado, eu acessava
uma autoestima que eu não tinha desmontado.
A primeira coisa então foi o Matheus entender que a autoestima que ele acessava enquanto o drag, ele também poderia acessar enquanto bofe.
A primeira coisa que a Mira me ensinou foi isso.”
Fotos: Victor Senador
Uma diva
Lady Gaga
Um suco
Limão
Não vivo sem
Terapia
BH é
Meu lar
Um sonho
Viver de drag confortavelmente
Um medo
Não dar conta de me sustentar sozinho
Ser drag é
Libertador, artístico e intrigante
Mira MiuMiu por Mira MiuMiu
A megera mais amada do Brasil (risos)
Encontre Mira MiuMiu:
Foto: Lucas Henrich
Com um processo criativo cuidadoso e embasamento na sua formação em design gráfico, Mira se destaca nas performances para além da MiuMiu Wigs. Acertando na comicidade e no jeitinho megera debochada de ser, tornou-se referência drag em Belo Horizonte dentro e fora de sua geração.
“Eu gosto muito de ter
picos e vales nos shows.
E eu amo esse tipo de performance que lá fora chamam de Spoken Word, que é o que a Tatianna fez no All Stars 2, que é só ela recitando uma grande palhaçada.”
sendo o Quinteiro e a @bsurda ambientes marcantes que carregam alguns dos momentos mais bonitos e especiais de sua carreira. Contudo, acredita que a capital mineira passa por um momento de pouca renovação.
Para Mira MiuMiu,
Belo Horizonte é o seu lar,
“Existem muitas drags que eu admirava e tive a oportunidade de conhecer que não estão se montando ou estão se montando cada vez menos. [...] Dentro dessa renovação a gente tem uma geração mais tímida, menor no volume de drags nascendo”.
“Mudar a realidade da cena
é uma ambição nossa,
mas se a gente conseguir mudar a nossa realidade e a das pessoas que a gente tem próximas já é muito bom.”
Foto: Iago Oliveira
Foto: Davlo
PASSO 1.
PASSO 2.
PASSO 3.
Quando as vilãs dos desenhos animados, dos filmes e das novelas brasileiras se somam ao clássico, ao vintage e ao burlesco, temos como resultado uma drag queen belorizontina irrefreável, sem limites.
Mira MiuMiu é uma megera capricorniana com abundância de acidez, humor e sarcasmo. Simplesmente incomparável e, sem dúvidas, belíssima.
Megera com M maiúsculo.
M de Marcante,
Múltipla, Magnética.
M de MiuMiu.
M de Maior Megera do Brasil.
Inspirando-se nas mulheres de sua família, há sete anos reflete a jornada de amor próprio de Matheus, seu criador e designer:
Mira foi uma criança muito artista, com um desejo forte de expressar sua autenticidade e criatividade. Sempre desenhou e se identificou com o universo estético e visual, principalmente por ter uma mãe cabeleireira e maquiadora. Então, também por ser fã de RuPaul’s Drag Race, seus amigos a incentivaram e, em cumplicidade com seu namorado da época, montou-se pela primeira vez.
E embora as expectativas fossem altas, o dia “Foi horrível!”. A luz acabou, a maquiagem foi uma decepção e a dor de ter usado saltos pela primeira vez só não foi pior do que o cansaço extremo que sentiu. Mas, mesmo em meio ao caos e à frustração, o sonho de ser drag queen teimou em pulsar o peito de Mira MiuMiu, porque, no fim, valia a pena.
“É um processo incômodo, mas que a gente passa pra se sentir bem, é como se fosse um pouco terapia. A gente faz porque a gente busca se desenvolver. É um processo doloroso - a drag e a terapia. É realmente a questão de uma frase que eu acredito muito: ‘a arte liberta’. Tem muitas pessoas no processo drag que se descobrem mulheres trans, ou descobrem outras coisas sobre si mesmas. Por mais que o primeiro dia tenha sido muito exaustivo fisicamente, ele preencheu uma coisa em mim que me fez querer montar no dia seguinte. Só quem passou ou passa entende.”
“A gente começou muito na vontade de se divertir, uma vontade de
pôr para fora a drag.
Se o começo como drag pode não ser fácil, talvez o de Mira tenha sido no mínimo mais acolhedor, devido à rede de apoio que a sustentou nos primeiros passos.
Já conhecendo outras drags, contando com o apoio imprescindível de sua mãe biológica e de sua mãe drag e mentora, Pietra LeBlanc, o processo foi menos doloroso. E todo esse carinho se reflete diretamente na altíssima qualidade do seu trabalho.
“Eu fui entendendo que o belo, ele gera admiração. Mas ele também gera afastamento, se ele não tiver uma humanização. Se não tiver
uma falha, sujeirinhas, ruídos.”
Antes da pandemia de Covid-19, ainda sem material apropriado, Mira fez uma peruca como a de Lady Gaga no clipe de Telephone, e gostou muito do resultado. Com o início do período de lockdown, começou a testar outras perucas, chamando as amigas drags, como Charlotte, para serem cobaias de suas experimentações. Tudo ocorreu de forma natural e, com o tempo, sentiu-se segura para comercializar sua arte e para assumir seu posto de Wig Stylist da sua marca “MiuMiu Wigs”.
Mira foi sendo reconhecida inicialmente em alguns vídeos viralizados no TikToks, em seguida, com convites para assinar coleção de perucas, videoclipes e vestir artistas. E agora, sobretudo, é reconhecida por nomes de peso como Malonna, Silvetty Montilla, e assina perucas de inúmeras queens da cena brasileira.
Mira MiuMiu não dá passos maiores que as pernas. É fato!
Essa drag sonha em abundância, mas, como uma boa capricorniana, não arrisca sem um bom plano de ação. Falando em passos, são estes os próximos que ela pretende dar:
O que? Lançar um curso de perucaria.
Como? Digitalmente, como um workshop.
Por quê? Nem sempre vai conseguir performar com a vitalidade que tem hoje, então é uma maneira de conseguir usar sua arte para gerar outras formas de renda.
O que? Participar do Drag Race Brasil.
Como? Idealmente, tendo uma reserva financeira confortável e seu curso de perucaria lançado.
Por quê? Por que não? Lógico! É maravilhoso e é a visibilidade que Mira precisa para que seu futuro curso seja um sucesso absoluto.
O que? Viver exclusivamente da carreirade drag queen.
Como? Se não for por Drag Race, com um planejamento a longo prazo e uma organização financeira que possibilite a manutenção de uma qualidade de vida e a boa execução do trabalho, mesmo sem direitos trabalhistas assegurados.
Por quê? Esse é O sonho. Debruçar-se inteiramente no universo drag, sem a preocupação de manter dois empregos.
Mas Mira sabe que nada é definitivo e que, mesmo nos melhores planos, riscos existem:
“A vida não acontece assim.”
A categoria é...
peruqueira fashion
“A Mira hoje para mim é minha megera, minha vilã. Às vezes também
ela é minha heroína.”
Fotos: imthebadgab
Foto: Lázaro Deusdedith
Foto: Davlo
Fotos: Victor Senador
Fotos: [1] Monalisa Leblanc, [2] Victor Senador, [3] Lázaro Deusdedith, [4] Marcelo Batista
Fotos: [1] Victor Senador, [2] Lázaro Deusdedith